(Foto pessoal São Mateus ES)
O poeta, de quando em quando, lhe aparecia metido em alguma produção literária.
Não havia ocasião ou espetáculo solene que escapasse à inspiração do fecundo escritor.
A originalidade do poeta, quando ele não a tem a princípio, ela se desenvolve muito com o tempo.
Escreve talvez menos e mais assentado.
Produz algo menos desgrenhado no estilo e no pensamento.
Pode ser que não tenha consideração que deseja, mas o ataque pessoal lhe é um batismo de fogo na sua arte poética.
Ele arma-se de paciência em esperar.
Não é a vaidade que o leva...
Sente que seu talento faz parte da harmonia universal.
Desafoga seu coração com inúmeros suspiros.
Inspira-se nas flores que recolhem o orvalho da noite, na brisa da manhã que as sacode e lhes entorna um pouco de sereno vivificante.
Segue entre os aplausos de uns e as imprecações de outros, a inveja de muitos e aplausos à sua original eloquência.
Ele se entrega com ardor às lides literárias, às vezes se esquece das lides forenses.
Ainda bem que e ouve algumas vezes alguma voz animadora, não sabe o quanto tem sido a inveja a meu respeito.
Debocham dele dizendo ser um alivinhador de ninharias.
Até agora nenhum lucro tentei tirar das minhas obras; mas era só amador.
O poeta é um sonhador incorrigível, tão desapegado da realidade da vida, acreditando não só nos seus grandes destinos, mas também na verossimilhanca de fazer de sua pena uma enxada.
Ele não é um inútil como parece.
Não lhe falta coragem nem estrelas no espaço azul e musas.
É fado dos poetas arderem por coisas que não podem obter.
Tem demasiado sentimento e muita sensibilidade, entusiasmo e fé.
(Machado de Assis)